12. Catacrese

12. Catacrese

Movida pela curiosidade, Helena está sempre criando novas brincadeiras. São as pedras, as folhas, as bonecas – com as quais ela repete os cuidados que a mãe lhe dedica: alimenta-as com comidinhas imaginárias, troca suas fraldas, não sem antes aplicar-lhes uma camada de pomada protetora. As poças de água, as vassouras e os rodos também a atraem vivamente.

Escuta a natureza. Distingue o canto dos pássaros, o barulho do vento nas árvores, o latido de um cão.

Procura sempre um significado para os objetos e com eles se distrai durante muito tempo. Agora que já tem dois anos, se diverte repetindo os sons e as palavras. A cada um de seus pertences, reserva um nome e, conversando com eles ou em referência a eles, vai tagarelando pela casa. À mamadeira – e também ao leite – chama memê, as bonecas são os nenês.

Preocupada com a ordem das coisas, separa os brinquedos pela cor e também os guarda quando termina de brincar. Cada coisa em seu lugar. (Será que puxou à titia?)

Num dia em que ficou com a vovó, esta lavou a mamadeira depois que Helena tomou o seu leite. Vendo que a avó deixara as peças soltas sobre o balcão, pegou a mamadeira, a plaquinha e o bico e montou o todo. Virando-se então para a vovó que segurava a tampa protetora do bico, disse a ela: Agora falta o sapato. Quando a avó lhe perguntou: A Helena quer pôr o sapato?, ela pacientemente explicou: Não, Vovó, o sapato da memê!

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