Explicação de um texto – Parte II – “Informação versus fake news”
Vamos agora observar como são desenvolvidos os pensamentos na elaboração dos parágrafos no texto que estamos analisando.
Sabemos que um parágrafo é uma unidade de composição. Ele deve formar um todo na apresentação do pensamento que desenvolve. Tudo ali tem um porquê, um significado.
Assim, notamos que o primeiro parágrafo se inicia por um verbo, um verbo com forte sentido negativo: proliferam (propagam-se).
Quem? As notícias falsas. As ações (verbos) que dão continuidade ao pensamento reforçam essa informação: Fazem… estrago. Confundem. Enganam. Desinformam.
Contrapondo-se a esse estrago, o autor apresenta aquilo que vê como antídoto: a qualidade da informação, desde já qualificada como a poderosa força persuasiva do conteúdo qualificado. Destaca-se no argumento a intensidade dos adjetivos utilizados: poderosa, persuasiva, qualificado (Sabemos que um adjetivo, quando utilizado, tem um papel a cumprir: ou acentua uma informação ou a dilui).
Apontado o problema e sugerida a solução no primeiro parágrafo, no segundo, o autor se dedica a analisar o contexto em que se dão as mudanças no setor da comunicação, ainda aqui explorando a força dos adjetivos: As rápidas e crescentes mudanças no setor da comunicação puseram em xeque os antigos modelos de negócios – rápidas, crescentes, antigos (modelos), seguro.
Vivemos um grande desafio e, ao mesmo tempo, uma baita oportunidade. Ao lado de um grande desafio, nos surpreendemos com baita oportunidade. Desafio e oportunidade se contrapõem e se completam. Por que baita, por que empregar gíria? Sendo uma publicação em jornal, o uso da gíria parece aproximar autor/leitor e conferir força ao argumento.
No terceiro parágrafo, inicia-se a proposta de reação para o resgate do bom jornalismo. Veja o significado crescente entre pensar e refletir (refletir é mais que pensar) e também entre mudança de paradigma, criatividade, capacidade de inovação (observe como há um crescendo nas ações propostas). Esse recurso prende o leitor e reforça a mensagem.
Mas é preciso… inicia o quarto parágrafo. A conjunção adversativa mas (assim como porém, contudo…) remete a uma preocupação prévia (previamente) – nada é tão simples, é necessária a autocrítica.
Os parágrafos cinco e seis contrapõem o antes e o agora e levam o leitor a caminhar com o redator na comparação dos cuidados que tínhamos em guardar nossas lembranças em álbuns de fotografias e a ânsia com que hoje acumulamos imagens digitais distanciadas de nossa memória afetiva. Este recurso – de apelar à imagem fotográfica –, que, num primeiro momento, parece fugir do assunto proposto, é também uma forma afetiva usada pelo autor para se aproximar de seu leitor e fisgá-lo por meio de costumes compartilhados.
Essa digressão é concluída no parágrafo sete quando o autor registra a preocupação de estarem as relações afetivas sucumbindo à coletiva solidão digital.
O parágrafo oito retoma a linha de raciocínio com a expressão algo análogo que, ao mesmo tempo, dá continuidade à argumentação e remete aos parágrafos anteriores. Neste parágrafo, mais uma vez, encontramos a força significativa dos termos empregados: consumo (da informação), (navegamos) freneticamente, enxurrada (de estímulos), (ficamos) reféns.
No parágrafo nove, destaca-se a preocupação do autor com a necessidade de retomar a magia do jornalismo de sempre. A interrogação Será?, que introduz o parágrafo, ao fazer a ligação com o parágrafo anterior, ao mesmo tempo, questiona sua última observação e permite que, a partir dali, sejam arrolados os argumentos que defendem a reinvenção do jornalismo.
No parágrafo dez, o redator apresenta um diagnóstico preocupado com o que chama de jornalismo sem alma e sem rigor. Veja aqui a força das locuções adjetivas e o paralelismo na repetição da palavra sem. No período iniciado por esse sujeito (jornalismo sem alma e sem rigor), os verbos que compõem as orações chamam a atenção pela força que comunicam e pela intensidade de significado que sua proximidade provoca: … diagnóstico de uma perigosa doença que contamina redações, afasta consumidores e escancara as portas para os traficantes da mentira. No emprego dos verbos, relacionados à perigosa doença, reconhecemos também o paralelismo construído com os verbos todos na 3ª. pessoa do singular. Ao mesmo tempo em que a repetição cria um ritmo harmonioso, mantém a unidade da informação.
O autor retoma, no parágrafo onze, um olhar propositivo que se expressa por é preciso contar boas histórias… Para reforçar esse argumento inicial, trabalha com contrastes: com transparência e sem filtros ideológicos; transformam um princípio irretocável num jogo de aparência. Volta aos paralelismos (repetições intencionais que funcionam como um reforço e conferem harmonia e intensidade à mensagem): … a batalha da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, da preguiça profissional e da incompetência arrogante; O bom jornalista ilumina a cena, o repórter manipulador constrói a história (aqui, contraste nos comportamentos apontados, paralelismo na construção frasal).
Do parágrafo doze até o parágrafo catorze estendem-se os argumentos em que o autor procura caminhos para o retorno à boa e velha reportagem. Os parágrafos vão-se sucedendo expondo as práticas que resultam na perda de credibilidade da notícia. Também nessa argumentação o autor se vale de locuções adjetivas e adjetivos carregados de significados que se somam aos significados dos substantivos ou os descaracterizam: imparcialidade aparente; repercussão seletiva; pluralismo de fachada, hermético e dogmático, o que confere força aos argumentos. Explora ainda os contrastes: Mata-se a notícia. Cria-se a versão (parágrafo doze). No parágrafo treze, destaca-se novamente o emprego dos adjetivos que reforçam a mensagem trazida nas afirmações do redator. O paralelismo apoiado nos substantivos abstratos, encontrado no parágrafo catorze, Politização da informação, distanciamento da realidade e falta de reportagem, confere força aos argumentos que vêm a seguir.
Nos parágrafos quinze e dezesseis vemos reforçado esse caráter propositivo que vê a possibilidade de resgate do jornalismo com a vibração da vida e o resgate do velho ofício (a boa informação).
Destaque-se, em todo o texto, a evidente preocupação com os encadeamentos e com os elementos de coesão entre os parágrafos e entre as ideias desenvolvidas pelo repórter.