O Romance

O Romance

Publicado originalmente na dissertação de mestrado O texto no espaço virtual: a leitura em rede,  de Clarmi Regis

“Independentemente […] dos cenários ideológicos […], a narrativa não cessa de se afirmar como modo de representação literária preferencialmente orientado para a condição histórica do Homem, para o seu devir e para a realidade em que ele se processa; no sentido de sublimar tal orientação […].” [1]

O romance, ensina Angélica Soares, em Gêneros literários [2], é uma forma narrativa surgida na Idade Média, com os romances de cavalaria. Ao contrário da epopeia, que caracterizou a narrativa da Antiguidade Clássica e mesclava o destino da coletividade e o caráter heroico aos fatos históricos nela relatados, voltou-se o romance para o homem como pessoa.

Mantém-se, a partir de então, assumindo diferentes temáticas e sofrendo seguidas transformações, de sorte que hoje o encontramos revestido de crítica social, conteúdo histórico, narrativa impressionista, crítica de costumes, análise psicológica, realismo maravilhoso, aparecendo, até mesmo, em forma de romance-ensaio, mesclado à teoria literária. Recebeu especial tratamento durante o Romantismo. Embora nem sempre se possa identificar com clareza os elementos que estruturam um romance, ele se constitui apoiado no enredo, nas personagens, no espaço, no tempo e no ponto de vista da narrativa.

O enredo, ou intriga, é a organização dos acontecimentos que compõem a fábula na trama que lhes dá forma. Essa organização se faz em torno de um tema, elemento unificador da narrativa. Na organização do enredo desenvolvem-se momentos de descrições que assumem importância na caracterização de personagens, objetos, cenas e situações. As situações apresentadas nos romances tradicionais costumam organizar-se com uma apresentação, seguida de uma complicação que leva os fatos até um clímax, ao qual se segue um epílogo.  O romance contemporâneo, ao contrário do romance que se fazia até o século XIX, muitas vezes deixa de apresentar um capítulo conclusivo, razão pela qual se chama romance aberto.

As personagens dão sentido às ações que compõem a trama. Além do protagonista (personagem principal), das personagens secundárias, deve-se destacar o narrador como elemento de ficção, criado pelo autor e responsável pela relação com a coisa narrada segundo seu ponto de vista. Também o leitor virtual, o narratário, é personagem idealizada como aquele a quem se destina a narrativa.

O tempo é elemento sempre presente na narrativa, seja na organização formal em que os fatos se estruturam uns após os outros, seja na elaboração diegética (o enredo, a trama, tornados narrativa), ou, ainda, no tempo psicológico, no monólogo interior, nos flashes.

O espaço se constitui junto com o tempo como elemento ligado ao desenvolvimento do enredo. Pode aparecer como espaço físico ou espaço psicológico e se prende diretamente à ação das personagens.

[1] REIS, Carlos e LOPES, Ana Cristina M. Dicionário de teoria da narrativa. Série Fundamentos. São Paulo: Ática, 1988, p. 68.

[2] SOARES, Angélica. Gêneros literários. Série Princípios. São Paulo: Ática, 1989, p.42.

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