Dissertação/Argumentação
É preciso que você organize seu projeto de dissertação/argumentação.
A partir do assunto proposto, você se questionará sobre o objetivo que seu texto quer alcançar – a linha de raciocínio que pretende desenvolver e que norteará toda a argumentação.
COMO FAZER?
A dissertação/argumentação se estrutura em três momentos: introdução, desenvolvimento e conclusão.
Nessa estruturação, faz-se, primeiro, a apresentação do assunto a ser discorrido (tese); em seguida, desenvolve-se a argumentação – em que o assunto é explicitado, os argumentos são apresentados – ; terminando-se por uma observação final, um encaminhamento ou uma proposição que aponte para novas ideias ou possibilidades.
INTRODUÇÃO
É a introdução que apresenta o assunto. O parágrafo introdutório propõe ao leitor o assunto que vai ser apresentado e/ou debatido e abre as possibilidades para a explanação, a discussão ou a explicitação que se fará no desenvolvimento.
Inúmeros recursos podem ser empregados na introdução, para dar espaço à argumentação desenvolvida de forma coerente com o objetivo proposto pelo autor.
PROCEDIMENTOS INTRODUTÓRIOS
- Narração de um fato ilustrativo.
- Apresentação de:
- questionamento;
- histórico do assunto;
- dados estatísticos, percentuais, resultados de pesquisas;
- contrastes e oposições;
- dados sociológicos, geográficos ou informações legais;
- conceito ou definição;
- citação.
- Exposição de informações técnicas
Narração de um fato ilustrativo ou representativo para o debate que virá a seguir.
Apresentação de um questionamento. Pode ser uma simples pergunta cuja resposta exigirá do autor a análise do assunto proposto (análise esta que se fará no desenvolvimento).
Apresentação de um histórico do assunto a ser desenvolvido.
O cuidado necessário no traçado desse histórico é com a ordenação: os fatos devem ser sempre apresentados num crescendo, de acordo com a ordem cronológica de seu acontecimento, do fato mais distante para o mais próximo.
O contrário (do mais próximo para o mais distante) também pode se dar, de acordo com o interesse do assunto que se propõe, observando-se sempre a continuidade da exposição, sem saltos ou idas e vindas, que tornem o texto confuso.
Apresentação de dados estatísticos, percentuais, resultados de pesquisas (Os dados devem ser mencionados junto com a fonte que os forneceu.)
Obs.: Quando se desconhece a fonte ou quando os dados podem ser questionados (tidos como inverídicos), não se deve usá-los (a menos que se possa prová-los). Números não podem ser tirados do bolso.
Apresentação de contrastes e oposições que possam despertar o leitor para a análise posterior.
Apresentação de dados sociológicos ou geográficos ou informações legais que permitam situar o assunto a ser discutido.
Apresentação de um conceito ou de uma definição, que será, a seguir, discutida e analisada.
Apresentação de uma citação, cuja mensagem será questionada como falsa ou defendida como verdadeira.
Exposição de informações técnicas, que servirão como ponto de partida para a análise.
Exemplos:
Ex. de APRESENTAÇÃO DE QUESTIONAMENTO
Haveria da parte dos filhos em relação aos pais, do marido em relação à mulher, da mãe em relação à filha o direito de requerer judicialmente que lhe seja dedicado afeto? Haveria a possibilidade de alguém pretender o bem-querer de outrem como dever jurídico por ser seu filho, marido ou mãe? Como impor a alguém ser afetuoso em razão de laço de sangue ou de liame matrimonial? Por não se ter sido afetuoso, pode-se transformar essa falta de afeto em dinheiro, por descumprimento do dever de agir afetuosamente?
O afeto ou a bolsa – Miguel Reale Júnior – O Estado de S.Paulo on line, 02 de junho de 2012.
Ex. de HISTÓRICO
Após a vitória de Salvador Allende nas eleições de 4 de setembro de 1970, Nixon e Kissinger realizaram uma série de operações encobertas desenhadas para bloquear a vitória de Allende e, quando falharam, para desestabilizar o seu governo.
Antes de Allende entrar no Palácio de La Moneda, “Nixon já havia dado instruções explícitas de realizar uma mudança de regime preventivo e gerar condições para que acontecesse um golpe militar”, em uma ação com o nome de FUBELT e que levou ao assassinato do então comandante do Exército René Schneider.
https://istoe.com.br/categoria/mundo/
Ex. de RESULTADOS DE PESQUISAS
Uma pesquisa publicada na revista especializada “International Journal of Eating Disorders” aponta que a idade não protege as mulheres de transtornos alimentares e das preocupações excessivas com o peso. Entre participantes de uma pesquisa, todas com mais de 50 anos, 3,5% relataram comer compulsivamente, quase 8% induzem vômito ou usam laxantes e mais de 70% estão tentando perder peso. De acordo com o estudo, 62% das mulheres afirmaram que seu peso tem impacto negativo em suas vidas. Mais de 70% das mulheres com mais de 50 estão tentando perder peso.
Folha de São Paulo, 21/06/2012
Ex. de CONTRASTES E OPOSIÇÕES
Em 2015, cerca de 195 nações assinaram o acordo climático de Paris, que estabelece metas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, de modo a evitar que as temperaturas aumentem mais de 2ºC em cerca de 50 anos.
Mas o presidente americano, Donald Trump, anunciou em junho o início de um processo de três anos para retirar os Estados Unidos do pacto, argumentando que este colocaria o país em desvantagem econômica.
Ex. de INFORMAÇÕES TÉCNICAS OU CIENTÍFICAS
Árvore de tronco sem ramificações e não lenhoso da família das caricáceas, o mamoeiro alcança de 3 a 6 metros de altura. O fruto costuma pesar de 0,5 a 2 quilos e há alguns que ultrapassam essa marca. A casca verde ou amarela encerra uma polpa de textura muito fina de cor amarela ou alaranjada. As numerosas sementes pretas têm sabor ácido picante e são usadas como vermífugo na medicina popular. O mamão contém 88,8% de água, 8% de carboidratos formados em grande parte de sacarose, glicose e frutose, 0,61% de proteínas e 0,14% de gorduras. […]
Jorge Pamplona. Plantas. Vida e saúde, junho 2012.
Ex. de CITAÇÃO
Os pensamentos de Voltaire (1694-1778), iluminista francês, resumidos pela escritora inglesa Evelyn B. Hall na frase “Desaprovo o que dizes, mas defenderei até a morte teu direito de dizê-lo”, parecem esquecidos. Torna-se difícil a troca de ideias madura entre aqueles que têm diferentes visões sobre nossos problemas sociais e econômicos e suas soluções.
http://epoca.globo.com/ideias/ set. 2017
Ex. de INFORMAÇÕES LEGAIS
A um primeiro olhar, o tratamento dispensado ao instituto da legítima defesa parece bastante singelo. De acordo com o que estabelece o art. 25 do Código Penal, “entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”.
Mariana Valentim Legítima defesa: um cheque que não é em branco https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br
Ex. de FATO ILUSTRATIVO
Tião cresceu vendo a família trabalhar duro no lixão. Acreditou num futuro melhor e hoje é o presidente da associação de catadores do Jardim Gramacho. “Quando fundei isto aqui, debocharam da minha cara, todo mundo dizia que não ia dar certo. Se você quer algo, todo dia tem que acordar e dormir com seu objetivo na cabeça.”
Tião dos Santos.
Época, 18 de junho de 2012.
O DESENVOLVIMENTO
O desenvolvimento corresponde ao corpo do trabalho; é a parte que dá sustentação ao assunto que se quer expor ou analisar. Apresentada, na parte introdutória, a ideia a ser discutida, esta será trabalhada, de forma progressiva, nos parágrafos de desenvolvimento.
É preciso que haja um encadeamento lógico, o que levará os argumentos a se completarem, numa linha de aprofundamento e de esclarecimento do assunto apresentado.
DESENVOLVIMENTO: dissertação/argumentação
- O desenvolvimento pode fazer-se por meio de simples exposição do assunto, tendo como objetivo tão somente a exposição em si mesma;
- Pode também constituir-se de uma apresentação argumentativa, em que serão trabalhados raciocínios, justificativas, testemunhos, análises em torno do assunto apontado. Esses construirão os argumentos que o autor apresenta a seu leitor.
Tais argumentos devem ser ordenados de maneira objetiva e lógica, dentro dos princípios de organização, unidade, coerência, clareza e concisão.
Diferentes formas de ordenação dos parágrafos podem ser encontradas no desenvolvimento da dissertação.
Ordenação por:
- conceituação
- tempo
- enumeração
- comparação, estabelecendo semelhanças e diferenças
- comparação ou paralelismo, destacando apenas semelhanças ou apenas diferenças
- estabelecimento de contraste
- exemplificação
- apresentação da relação causa-consequência
- ordenação pela apresentação da(s) causa(s) que deu(deram) origem ao fato analisado
- ordenação pela análise da(s) consequência(s) surgida(s) do fato apresentado
- ordenação por espaço (como uma situação ou um pensamento é visto em diferentes lugares), sempre do mais distante para o mais próximo, ou vice-versa, ou ainda explorando as maiores contradições/aproximações
- ordenação por tempo e espaço combinados
- apresentação de cifras e dados numéricos
Diferentes são as possibilidades de ordenação dos argumentos no desenvolvimento de um texto: tanto é possível valer-se de uma só forma de ordenação para todos os parágrafos quanto harmonizar diferentes formas de ordenação.
Os excessos são sempre desaconselháveis. Harmonize a introdução com o desenvolvimento de sua argumentação. Não polua seu texto com excessos.
A partir dos recursos empregados na introdução, você pode planejar o desenvolvimento de seu trabalho e escolher a argumentação necessária para alcançar os objetivos desejados.
Dê a seus argumentos a ordenação necessária para que seu leitor possa acompanhar o raciocínio ali desenvolvido.
A CONCLUSÃO
A conclusão se apresenta como um adensamento do texto desenvolvido até ali. Pode ela:
- recapitular o que se apresentou na introdução e no desenvolvimento, resumindo os pensamentos expostos
- alertar para possíveis consequências ou hipóteses de situações decorrentes dos fatores analisados
- levantar propostas ou novos questionamentos que deixariam abertura para uma possível continuidade às análises até ali desenvolvidas
- apresentar uma citação que sintetize os pensamentos aprofundados durante o trabalho
- traçar um paralelo com uma situação semelhante à ali exposta
OBS. Exames como os vestibulares, provas do ENEM e do ENADE pedem que o redator aponte, na conclusão, uma possível solução para o problema apontado na introdução e explicitado no desenvolvimento.
Ex: ALGUMAS CONCLUSÕES
Quando você dá sentido ao seu trabalho, você não se deixa alienar. Seu trabalho não se torna algo separado de você, um produto que não é seu. Ao contrário. Ele é você, contém você, tem nele o seu desejo. Como expressão de sua passagem pelo mundo, seu trabalho lembra a cada dia de quem você é e do que realmente importa. Se isso não acontece, talvez seja hora de mudar. Não apenas de emprego, não somente o que está fora de você, mas algo um pouco mais profundo, bem mais fundo, mas que pode condenar ou libertar a sua vida.
Eliane Brum. Você gosta do que faz? Revista Época on-line, acesso em 2 de agosto de 2009
A conclusão que apresentada abaixo corresponde a esta introdução:
“Televisão e internet são, frequentemente, os bodes expiatórios para justificar a crise dos jornais. Os jovens estão “plugados” horas sem-fim. Já nascem de costas para a palavra impressa. Será? É evidente que a juventude de hoje lê muito menos. Mas não é só a moçada que foge dos jornais. Os representantes das classes A e B também têm aumentado a fileira dos navegantes do espaço virtual.”
O texto termina com a observação seguinte:
Uma cobertura de qualidade é, antes de mais nada, uma questão de foco. É preciso declarar guerra ao jornalismo declaratório e assumir, efetivamente, a agenda do cidadão. O nosso papel é ouvir as pessoas, conhecer suas queixas, identificar suas carências e cobrar soluções dos governantes. O jornalismo de registro, pobre e simplificador, repercute o Brasil oficial, mas oculta a verdadeira dimensão do País real. Precisamos fugir do espetáculo e fazer a opção pela informação. Só assim, com equilíbrio e didatismo, conseguiremos separar a notícia do lixo declaratório. Só um sério investimento em qualidade e rigor garantirá o futuro dos jornais.
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,jornal-qualidade–e-rigor-,786364,0.htm. Acesso em 17 de outubro de 2011
Segundo José Luiz Fiorin em Argumentação. São Paulo: Contexto, 2016, p.256/257
“A conclusão não é a repetição de algo que se disse anteriormente. Ela é o termo da demonstração, é um ponto de chegada, é um balanço do que se discutiu antes. Por isso, deve estar ligada logicamente ao que a precede. É preciso que haja uma relação de necessidade entre o restante do texto e a conclusão. Nela, pode-se também alargar o problema, inserindo-o numa perspectiva mais geral ou mostrando que ele faz parte de uma problemática mais ampla.”
Ainda segundo José L. Fiorin, na conclusão devem ser evitados:
- A falta de relação com o desenvolvimento
- As banalidades e os lugares-comuns
- A relação com apenas uma parte do texto