Articulação do texto – Conhecendo um pouco mais

Articulação do texto – Conhecendo um pouco mais

Coesão: o que é

 

  • A coesão diz respeito aos processos de sequencialização que asseguram a relação de significados entre as partes que compõem um texto.
  • Quando um texto apresenta coesão, as ideias se ligam umas às outras, formando um fluxo lógico e contínuo. Num texto coeso, a leitura se dá com facilidade.

Coesão apoiada no léxico: na escolha e emprego das palavras

A coesão apoiada no léxico pode se dar por meio de coesão

  1. estabelecida por reiteração (repetição)
  2. estabelecida por substituição
  3. estabelecida por associação

 

Coesão estabelecida por reiteração

“Os mecanismos de repetição favorecem o desenvolvimento temático, permitem um jogo regrado de retomadas a partir do qual se fixa um fio textual condutor.”

GUIMARÃES, Elisa. A articulação do texto. Série Princípios.
São Paulo: Ática, 2000, p.24.

Coesão estabelecida por reiteração

  • Garante-se a coesão apoiada no léxico com o emprego de enlaces semânticos de frases por meio da repetição. A mensagem-tema do texto apoiada na conexão de elementos léxicos sucessivos pode dar-se por simples iteração (repetição da palavra).
  • Cabe, nesse caso, fazer-se a diferenciação entre a simples redundância resultado da pobreza de vocabulário e o emprego de repetições como recurso estilístico, com intenção articulatória.

Coesão estabelecida por reiteração (ou iteração) Exemplo

Um estudo realizado na Alemanha pode ajudar a derrubar a crença de que a frutose engorda menos que outros adoçantes. Experimentos feitos com roedores mostraram que as bebidas adoçadas com o chamado “açúcar das frutas” podem provocar um maior acúmulo de gordura no corpo do que aquelas adoçadas com açúcar comum (sacarose). O estudo sugere ainda que o ganho de peso não depende unicamente da quantidade de calorias ingeridas, mas também da qualidade dos alimentos.

http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/3533

 

Coesão apoiada na substituição

A substituição léxica se dá tanto pelo emprego de sinônimos como de palavras quase sinônimas. Considerem-se aqui além das palavras sinônimas, aquelas resultantes de famílias ideológicas e do campo associativo, como, por exemplo, casa, domicílio, habitação, lar, mansão morada, residência, teto, vivenda; esvoaçar, revoar, voar.

Substituição léxica: aqui palavras quase sinônimas

Na comemoração dos 100 anos da primeira Revolução Russa e do centenário da publicação de A ética protestante e o “espírito” do capitalismo, um dos mais importantes estudos do sociólogo alemão Max Weber, o público brasileiro é que foi agraciado. O livro Estudos Políticos – Rússia 1905 e 1917, publicado recentemente, traz três textos de Weber, até então inéditos no Brasil, nos quais o sociólogo faz uma análise do panorama político que levou às revoluções russas.

http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/399   –  A Revolução Russa segundo Max Weber –  Coletânea reúne textos inéditos do Brasil de um dos fundadores da sociologia

 

Garante-se também a coesão apoiada no léxico com o emprego de

  • nominalizações (quando um fato, uma ocorrência, aparece em forma de verbo e, mais adiante, reaparece como substantivo, ex.: consertar, o conserto; viajar, a viagem).
  • Além da nominalização estrita, podemos fazer uso de generalizações (ex.: o cão < o animal) e especificações (ex.: planta > árvore > palmeira).

Coesão apoiada no léxico: exemplos

  • relações de um termo específico com um termo de sentido geral, ex.: gato, felino
  • relações de um termo de sentido mais amplo com outros de sentido mais específico, ex.: felino, gato.

 

Emprego de generalização

Os experimentos, conduzidos por cientistas alemães e norte-americanos, consistiram em alimentar ratos adultos com grãos e diferentes tipos de bebida. Cada animal consumia diariamente o mesmo número de calorias (cerca de 110 kcal). Aqueles que tomavam bebidas mais energéticas comiam menos ração e vice-versa. Os animais foram divididos em quatro grupos, de acordo com o líquido tomado: solução de água com frutose, de concentração semelhante à dos refrigerantes vendidos nos Estados Unidos.

http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/3533

 

Relações de um termo específico com um termo de sentido geral

No primeiro dia da dieta, os ratos pesavam, em média, 39 gramas. Após 73 dias de alimentação monitorada, os roedores foram pesados e submetidos a exames de sangue e de ressonância magnética, entre outros. Posteriormente, foram sacrificados para que seu fígado fosse analisado. Os resultados mostram que o grupo que bebeu a solução concentrada de frutose apresentou um maior aumento de massa, chegando a engordar, em média, nove gramas, enquanto os outros adquiriram menos de cinco.

http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/3533

Relações de um termo específico com um termo de sentido geral

  •  Num artigo publicado há pouco mais de um ano na revista «Science» e divulgado aqui pelo «Ciência Hoje» dava-se a conhecer um provável antepassado directo do gênero Homo, o australopiteco Australopithecus sediba que viveu há 2 milhões de anos na África. Os restos estudados correspondiam a uma mulher de aproximadamente 30 anos e a um menino de 10.
  • Agora, a mesma revista publica cinco estudos diferentes em que são descritos novos pormenores da anatomia dessa espécie. As descobertas, dizem os especialistas, põe mesmo em causa algumas teorias existentes sobre a evolução humana.

http://cienciahoje.pt/58. Acesso em 10 de outubro de 2011

 

Coesão apoiada no léxico com o emprego de Substitutos universais

  • João trabalha muito. Também o faço. O verbo fazer em substituição ao verbo trabalhar.
  • Pedro comprou um carro novo. José também.

 

Garante-se também a coesão apoiada no léxico

  • Com o emprego de enunciados que estabelecem a recapitulação da ideia global.
  •  Todo um enunciado anterior e a ideia global que ele refere são retomados por outro enunciado que os resume e/ou interpreta. Com esse recurso, evitam-se as repetições e faz-se o discurso avançar, mantendo-se sua unidade.

Ex.: Estavam no pátio de uma fazenda sem vida. O curral deserto, o chiqueiro das cabras arruinado e também deserto, a casa do vaqueiro fechada, tudo anunciava abandono. (Observe a função da palavra tudo, abrangendo as informações anteriores)

RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 12 ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1965, p.11.

 

Contiguidade

  •  Ainda com apoio no léxico, temos o emprego de termos pertencentes todos a um mesmo campo significativo. Isso é o que chamamos contiguidade.
  • Ex.: Houve um grande acidente na estrada. Dezenas de ambulâncias transportaram os feridos para os hospitais da cidade mais próxima.

 

Coesão apoiada na gramática

Agora vamos nos voltar para a coesão apoiada na gramática. Essa coesão se dá no uso de:

  • certos advérbios e expressões adverbiais
  • artigos
  • conjunções
  • numerais

Coesão apoiada na gramática

  • A coesão gramatical acontece com o emprego de certos pronomes (pessoais, adjetivos ou substantivos).
  • Destacam-se aqui os pronomes pessoais de terceira pessoa, empregados como substitutos de elementos anteriormente presentes no texto, diferentemente dos pronomes de 1ª e 2ª pessoa que se referem à pessoa que fala e com quem esta fala.
    Ex.: A ciência só nos pode oferecer métodos para explorar, organizar, explicar e testar problemas previamente escolhidos. Ela não pode dizer o que é importante ou não.

ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. São
Paulo: Ars Poética, 1995, p. 88.

 

Coesão apoiada na gramática

Destacam-se também os elementos que exercem, por excelência, essa função de progressão textual, dada sua característica: são elementos que não significam, apenas indicam, remetem aos componentes da situação comunicativa.
Concordâncias
Correlação entre os tempos verbais (O uso correto dos tempos verbais garante a ordenação e a coesão na apresentação dos fatos e dos argumentos.)

Elisa Guimarães ensina:

  • Os pronomes pessoais e as desinências verbais indicam os participantes do ato do discurso.
  • Os pronomes demonstrativos, certas locuções prepositivas e adverbiais, bem como os advérbios de tempo, referenciam o momento da enunciação, podendo indicar simultaneidade, anterioridade ou posterioridade. Assim: este, agora, hoje, neste momento (presente); ultimamente, recentemente, ontem, há alguns dias, antes de (pretérito); de agora em diante, no próximo ano, depois de (futuro).

 

A coesão apoiada na gramática dá-se também com o uso de:

  • elipses. A elipse se justifica quando, ao remeter a um enunciado anterior, a palavra elidida é facilmente identificávelEx.: O jovem recolheu-se cedo. Sabia que precisava de repouso.O termo o jovem deixa de ser repetido e, assim, estabelece a relação entre as duas orações. É a própria ausência do termo que marca a inter-relação.A identificação pode dar-se com o próprio enunciado, como no exemplo anterior, ou com elementos extraverbais, exteriores ao enunciado.
    Vejam-se os avisos em lugares públicos (ex.: Perigo!) e as frases exclamativas, que remetem a uma situação não verbal. Nesse caso, a articulação se dá entre texto e contexto (extratextual).

 

A conjunção permite estabelecer relações significativas entre as partes de um texto.

  • Destaque especial se dá às conjunções aditivas, adversativas, causais, temporais e às que oferecem sentido continuativo.
    Ex.: Muito esforço se fez para preparar o seminário, mas os resultados não foram os esperados.

 

COESÃO REFERENCIAL

“O referente se constrói no desenrolar do texto, modificando-se a cada novo ‘nome’ que se lhe dê ou a cada ocorrência do mesmo ‘nome’. Isto é, o referente é algo que se (re)constrói textualmente.”

(Ingedore Villaça Koch, citando Blanche-Beneviste)

Itaparica
(1)Dona de uma luminosidade fantástica em seus 240 quilômetros quadrados, a ilha de Itaparica elegeu a liberdade como padrão e fez da aventura uma experiência que não tem hora para começar. (2) Ali tudo flui espontaneamente, desde que o sol nasce, anunciando mais um dia, até a noite chegar, com o luar refletindo no mar e as luzes de Salvador como pano de fundo. (3) De resto, a ilha funciona como um quebra-mar que protege todo o interior da Baía de Todos os Santos. (4) É a maior de todas as 54 da região – a Ilha-mãe, para melhor definir a geografia local. […] Como toda localidade baiana que se preza, a ilha pratica ritos de antigas raízes místicas. (6) E nisto também é singular. (7) Ela abriga o único candomblé do mundo consagrado aos eguns, nome atribuído aos espíritos dos mortos. (8) A tradição desse culto foi herdada da nação Ketu e tem presença garantida, quatro vezes por ano, em suas cerimônias mais importantes, de muitos africanos que vêm especialmente de seus países para o evento. (9) Nos cultos, não é permitida a entrada de não iniciados, a não ser com autorização de alguns sacerdotes egos, os únicos dotados de poder para manter os eguns afastados. (10) Eles usam varas brancas e compridas, para evitar que algum mal aconteça aos que apenas vão assistir aos rituais. (11) Nessas ocasiões, uma vela deve ser reverenciada por todos antes das cerimônias, colocada no alto do morro das amoreiras. […]

(Kátia Simões, Shopping News, Caderno de Turismo, p. 10, 12/03/89)
NOTA: Texto trabalhado por Ingedore Villaça Koch em A coesão textual, Editora Contexto.

 

COESÃO SEQUENCIAL

• Na coesão sequencial, a progressão pode se fazer com ou sem elementos recorrentes.

 

SEQUENCIAÇÃO com elementos de recorrência (retomam-se os fatos, as informações)

  • Era uma aldeia de pescadores de onde a alegria fugira e os dias e as noites se sucediam numa monotonia sem fim, das mesmas coisas que aconteciam, das mesmas coisas que se diziam, dos mesmos gestos que se faziamos olhares eram tristes, baços peixes que já nada procuravam, por saberem inútil procurar qualquer coisa, os rostos vazios de sorrisos e de surpresas, a morte prematura morando no enfado, só as intermináveis rotinas do dia a dia, prisão daqueles que se haviam condenado a si mesmos, sem esperanças, nenhuma outra praia pra onde navegar…

(Rubem Alves, A aldeia que nunca mais foi a mesma. Texto utilizado por Ingedore Villaça Koch em A coesão textual)

 

RECURSOS LINGUÍSTICOS QUE SE DESTACAM NESSE TEXTO

  • Extensão do parágrafo
  • Reiteração de termos que veiculam as ideias básicas
  • Reiteração de estruturas sintáticas
  • Reiteração do conectivo e
  • Predominância de verbos no pretérito imperfeito do indicativo
  • Reiteração do conteúdo semântico

 

SEQUENCIAÇÃO sem elementos recorrentes (As informações se voltam para a frente. Há um continuum.)

  • Todo jornalismo é político, no sentido amplo da palavra. Se política é a ciência dos fenômenos relacionados com o Estado, e se o Estado é a nação politicamente organizada, quando um repórter escreve sobre qualquer fato ocorrido no país, mesmo sobre um assassino no morro da Mangueira, está fazendo jornalismo político. Ainda que passional, um assassinato sempre envolverá relações entre indivíduos e autoridade. Vale a imagem para o esporte, pois ao reportar um jogo do Flamengo com o Vasco o jornalista estará, antes de mais nada, referindo-se a uma prática regulada em leis, portarias e sucedâneos, bem como a algo que apaixona a população inteira.

(Carlos Chagas, Arte e artes da crônica política. Texto utilizado por Ingedore Villaça Koch em A coesão textual)

 

MECANISMOS RESPONSÁVEIS PELA SEQUENCIAÇÃO

  • A progressão se faz nesse texto por meio de sucessivos encadeamentos, assinalados por uma série de marcas linguísticas por meio das quais se estabelecem entre os enunciados que compõem o texto, determinados tipos de relação.
  • O fluxo de informação se faz sem obstáculos e as ideias se sucedem com maior rapidez

 

Coesão implícita

Não só a coesão explícita possibilita a compreensão de um texto. Muitas vezes a comunicação se faz por meio de uma coesão implícita, apoiada no conhecimento mútuo anterior que os participantes do processo comunicativo têm da língua e/ou da situação mencionada.

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