Gêneros – Descrição
Gêneros
Até aqui nos detivemos a observar o texto dissertativo. Vamos enriquecer um pouco mais nosso horizonte e olhar de perto outros gêneros que o dia a dia nos apresenta.
DESCRIÇÃO
A descrição é um retrato verbal, ou seja, é um retrato feito com o emprego de palavras – a descrição diz como os seres são (características, elementos particularizantes, elementos constitutivos, etc.).
O mundo que nos rodeia, com suas imagens, ruídos, perfumes e cores, mantém nossos sentidos em atenção permanente. Nossa retina fixa e fotografa as diferentes formas de vida, selecionando as impressões mais fortes e duradouras. A tecnologia permite aos homens registrar detalhes minuciosos da natureza e da criação humana. Criar as mesmas impressões com palavras, utilizando-as para pintar retratos exatos, eis o desafio que a descrição nos propõe. Não é fácil! As descrições podem dizer respeito a aspectos físicos, emocionais, psicológicos ou sociais dos indivíduos; podem retratar animais, ambientes, grupos humanos, cenas coletivas, com ou sem movimento. É uma forma riquíssima de redação e, quase sempre, vem dentro de narrativas ou de dissertações, esclarecendo ou reforçando determinados aspectos por elas abordados.
Veja algumas descrições:
E aquilo se foi constituindo numa grande lavanderia, agitada e barulhenta, com as suas cercas de varal, as suas hortaliças verdejantes e os seus jardinzinhos de três e quatro palmos, que apareciam como manchas alegres por entre a negrura das limosas tinas transbordantes e o reverbero das claras barracas de algodão cru, armadas sobre os lustrosos bancos de lavar. E os gotejantes jiraus, cobertos de roupa molhada, cintilavam ao sol, que nem lagos de metal branco.
(Aluísio Azevedo, em O Cortiço, Capítulo I)
O texto acima descreve um ambiente coletivo. Pertence ao primeiro capitulo de um romance, logo, de uma narrativa. Trata-se, porém, de uma parte essencialmente descritiva. Como você pode constatar, as diferentes formas de redação, além de suas peculiaridades, se enriquecem mutuamente.
Tida por muitos como capaz de realizar prodígios, a uva é uma das frutas mais ricas em vitaminas. Ela alimenta, desintoxica, contribui na reparação da estrutura do organismo, regenera o sangue, estimulando a formação de glóbulos, especialmente os vermelhos. E não engorda. Pode-se escolher e comer à vontade. Como sobremesa, é refrescante e digestiva.
(Doçura Oriental, em Vida e Saúde, agosto 1997)
Aqui a uva é descrita em suas propriedades nutritivas. O parágrafo que você leu é o parágrafo introdutório de uma dissertação. O recurso que o autor escolheu foi apontar, para depois analisar as propriedades da uva. Você pode, de novo, constatar como diferentes formas de redação se auxiliam na composição de um texto.
O Muro
É um velho paredão, todo gretado,
Roto e negro, a que o tempo uma oferenda
Deixou num cacto em flor ensanguentado
E, num pouco de musgo em cada fenda.
Serve há muito de encerro a uma vivenda
Protegê-la e guardá-la é seu cuidado;
Talvez consigo esta missão compreenda
Sempre em seu posto, firme e alevantado
Horas mortas, a lua o véu desata,
E em cheio brilha; a solidão estrela
Toda de um vago cintilar de prata;
E o velho muro, alta a parede nua,
Olha em redor, espreita a sombra, e vela,
Entre os beijos e lágrimas da lua.
Esse é um soneto do poeta parnasiano Alberto de Oliveira. Nele o poeta descreve um muro e a ambiência que o cerca. Os detalhes são apontados numa linguagem que os representa e reveste de beleza. O quadro se revela ao leitor como se uma pintura fosse.
Quem descreve destaca alguns aspectos e ignora outros. Esse cuidado e essa habilidade fazem com que o leitor se identifique com o escritor e siga a trilha por ele apontada.