12. Paris

Qu’est ce qu’on fait? C’est l’été.

Et, les touristes?

Les touristes? Ils reviennent… Toutes les années c’est la même chose. Quoi faire?

Como não amar Paris, a cidade que a magia do cinema eternizou em nosso imaginário?  Ah! As luzes de Paris, as pontes de Paris, o rio Sena e a promessa de encantamento na espuma deixada por seus barcos.

Paris de muitas histórias, de diferentes facetas, de múltiplas verdades. Paris de tantos heróis, de tantas guerras.

A aura de luz, de glamour, de paixão e também de revolução, faz de cada cidadão do mundo um entusiasta por Paris. La Marseillaise ainda embala nossos sonhos de liberdade.

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11. Palavras

Quase posso ouvir o som dos braços de meu professor de Latim, recobertos pela larga batina, quando nos mostrava a origem da palavra asa>ansa, nascida dos ruídos que as asas dos pássaros faziam ao iniciar seu voo.

As palavras, ah! as palavras! Independentemente de sua origem etimológica, de seu significado ou das explicações fonéticas que as justificam, despertam risos, sonhos, associações. Nos sons, um universo.

Os sons anasalados ronronam e prometem continuidade ou fecham-se sobre si mesmos. Trânsfuga, por exemplo: a tônica inicial faz de trans o impulso do tobogã em que deslizam as outras sílabas, ao passo que em camarões enrola-se como …um camarão.

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10. Quiridu

“É aqui, né quirida?!” Assim o taxista anuncia minha chegada ao destino.

Somente quem nasceu em Florianópolis ou nela viveu por muito tempo consegue entender a importância de quiridar-se – verbo criado pelo professor Júlio de Queiroz, grande conhecedor da alma manezinha.

Sejam íntimos ou recém-conhecidos, todos aqui se quiridam. Iniciando a conversação, a palavra serve de chamado e inclusão. O interlocutor deixa de ser um estranho para se tornar parte de uma conversação. Colocada no final de uma observação, a expressão dulcifica e aplaca a dureza que possa acompanhar a fala. Dá a deixa para a mensagem do outro e informa que ali está alguém pronto a ouvir.

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9 . Latinidad

“Falar castelhano é fácil. Somos todos vizinhos e crescemos ouvindo nossos hermanos.” Assim pensava eu e defendia meu ponto de vista sempre que o assunto aparecia nas conversas.

Leio e traduzo textos em espanhol e compreendo com facilidade tudo o que nossos vizinhos dizem. Faço questão de ver sem legendas filmes espanhóis ou latino-americanos. Daí minha convicção.

Precisei pensar com mais vagar e rever essa convicção quando me inscrevi num curso on-line de uma universidade portenha. Ler as orientações foi quase natural – dúvida nenhuma. O encontro com os textos, longos e interessantes, com informações claras e vocabulário preciso, fluiu com prazer e segurança. Nem me dei conta de que não lia em português.

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8 . Pares

Redes sociais, televisivas, revistas, jornais, grupos virtuais, todos discutem a igualdade de gênero, a construção de identidade, o respeito às escolhas sexuais.

Eu, porém, acho que a discussão deveria ser outra: deveríamos discutir os pares, não importando os gêneros que os estabelecem.

As dúvidas, medos, ciúmes, submissões se fazem tanto em pares hétero como em pares homossexuais: a submissão ao sexo implicando também a submissão da vida, da vontade, do pensamento, a luta pela igualdade desaparecendo entre as quatro paredes. Conheci um casal homo em que um deles exercia o tradicional e tão questionado papel feminino – permanecendo em casa a cozinhar, limpar, lavar, passar –, enquanto seu parceiro saía para trabalhar.

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7 . No trânsito

No trânsito, os indivíduos não só seguem diferentes rotas como também se deixam conduzir por valores e comportamentos incomuns. Não, não estou falando das exigências das leis que ordenam o vai e vem nas cidades e rodovias, falo dos instintos primitivos que afloram quando um motorista se acomoda no banco de seu carro: um novo ser passa a determinar marchas, velocidade, direção.

Muda também o vocabulário normalmente usado pelo motorista quando não está sobre as quatro rodas. Tenho tido oportunidades várias de conhecer o novo emprego de palavras antigas.

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6 . Verão

Sol de verão. Quarenta graus à sombra. O calor da tarde reverberava nas telhas de amianto. O bafo, denso, pesado, subia das pedras escaldantes. Qual trepadeira indomada, o ar quente envolvia os corpos, roubando-lhes as forças. A atmosfera matava sua sede com a umidade dos corpos.

Nada parecia resistir ao calor que tudo envolvia. As coisas todas permaneciam hipnotizadas, paradas no tempo, aguardando um sopro de brisa que viesse despertá-las. Narinas dilatadas, os passantes inalavam o ar aquecido. O cansaço se fazia maior.

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5 . Hora de dormir

“Criança precisa dormir dez horas por dia.”

“O melhor horário para acomodar as crianças é antes das nove horas.”

“Crie uma rotina. Você precisa insistir; não se deixe enrolar.”

“Como não dormem?!”

Banho tomado, dentes escovados, cheirosos em seus pijamas, meus anjos são levados para o quarto.

– Cadê meu ursinho?

– Ao lado do travesseiro.

– Não quero esta coberta: estou com frio.

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4 . Cinema de bairro

As salas de cinema estão hoje confinadas em shopping centers e deles adquiriram a frieza e o anonimato: sala 1, 2, 3, 4, 5… Com isso, distanciaram-se de seu significado mais profundo: apresentar-se como ponto de confluência de toda uma comunidade.

O cinema do bairro ou das cidades pequenas revestia-se de glamour e proporcionava a seus frequentadores a dose necessária de magia e encanto para vencerem a semana à espera do novo domingo e novas emoções.

Ali se dava o encontro das crianças, dos jovens, dos adultos, em diferentes momentos. As sessões matinais reservavam-se para os pequenos com a apresentação dos aguardados filmes infantis – os animados desenhos e as aventuras da Chita, da Lassie, de Flipper e de Willy, de Oscarito e Mazzaroppi.

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3 . As vacas de Lori

A viagem seria longa. Horas de estrada. Acomodei-me em meu lugar ao lado da janela com a intenção de aproveitar o tempo e terminar a leitura iniciada pela manhã.

Aproximou-se então aquela figura, ao mesmo tempo doce e enérgica, e sentou-se a meu lado. Permanecemos em silêncio enquanto o ônibus deixava a rodoviária e avançava em meio ao pesado trânsito de fim de tarde.

Embora os relógios marcassem quase oito horas, o dia ainda teimava em segurar o sol. Os raios, agora enviesados, incidiam no vidro e repousavam sobre o rosto de minha companheira de ocasião.

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