17. No aeroporto

– Mamãe, estou com sede!

– Me too! So hot!

– Vão com a vovó até o bar enquanto eu despacho a bagagem.

O andar térreo do aeroporto mostra-se um pequeno recorte da vida: gente que chega apressada, gente que sai entre curiosa e cansada; este, impaciente, aquele, distraído; mães às voltas com bebês; pais atentos às famílias; estudantes despreocupadamente sentados no chão, às voltas com seus aparelhos; chamados, risadas. Diferentes linguagens, diferentes adereços. Ninguém enxerga ninguém.

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16. Nasce uma estrela

Frio de rodoviária. A noite impregnada de cheiros e emoções. O vento sacudia os galhos floridos das laranjeiras e esparzia seu incenso na limpidez da noite. Embora o calendário apontasse para o final do inverno, o brilho intenso das estrelas prometia geada ao amanhecer.

Os passageiros já acomodados nos bancos do ônibus aconchegavam-se quanto possível em mantas e cobertores. Fechei melhor meu casaco e aproximei o cachecol do rosto, protegendo a boca e o nariz.

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15. A mãe desnecessária

“A boa mãe é aquela que vai se tornando
desnecessária com o passar do tempo.”

 

– Mamãe, vou morar com a Angelina. Já alugamos uma casa e estamos nos organizando.

A notícia surpreende. Ontem ainda o filho pedira para você ir com ele ao laboratório (desde pequeno, laboratórios o assustavam), e agora, vai mudar de casa!?

Minha querida, você não notou, mas ele há tempos abandonou o ninho. Agora só completa a saída física. Lembra-se daquele aniversário em que ele avisou à família que ia comemorar com os amigos? E daquele Natal em que ele foi para a casa da mãe da namorada do irmão do vizinho, dizendo ser mais divertido do que passar com a família? E de quando você fez cinquenta anos e todos os amigos vieram para comemorar? Onde ele estava? Numa pousada com os colegas da Faculdade saudando a primavera. Minha amiga, ele saiu há muito tempo: você não quis perceber os sinais.

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14. O rato

Primeiro ele deixou sinais de sua passagem: pequeninas fezes e manchinhas de urina, em meio aos frascos, sobre a cômoda.

Com o passar das semanas, a visita se tornou diária, e os sinais foram aparecendo em outros pontos do quarto.

Alguma coisa precisava ser feita. Como sou vegetariana e vivo a defender os mamíferos – nossos irmãos, também eles amamentam suas crias –, me vi frente a um dilema: “Como tirar o rato de dentro de casa sem fazer-lhe mal?”

Abri a casa toda. Deixei escancaradas as janelas do quarto até a noite. Coloquei pedacinhos de pão do peitoril da janela mais próxima ao balcão até o chão da parede externa. Na manhã seguinte, lá estavam novamente as provas da invasão.

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13. Vida “Sedentária”

Botou a roupa na máquina e, quando reunia o lixo, percebeu o estrago que o cachorro fizera, durante a noite, em seu canteiro de margaridas. Recolhendo as flores e os talos macerados, ruminava a vontade de lhe dar umas chineladas: “Você vai ver, quando eu o encontrar…”

Abaixada como estava, só pôde sentir o impacto das patas do animal que chegara correndo, e agora lhe lambia o rosto, abanava a cauda e saltava ao seu redor. Repreendendo-o, carinhosamente, caminhou ao encontro do menorzinho que, descalço, vinha em sua direção com uma caixa nas mãos e um rastro de leite sob os pés.

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