22. A cirurgia

22. A cirurgia

Divórcio comentado foi o do Doutor Elias e da Dona Marieta. Repentino, surpreendeu a todos: Eram tão unidos!

Foi a cirurgia do Pequi!, esclarecem os mais próximos. Realmente, a cirurgia do Pequi foi um marco, um antes e depois, na vida do Doutor Elias.

O Pequi era o parceiro do Doutor Elias para todas as ocasiões. Estava com ele nas pescarias, nas compras, nos passeios de fim de tarde. Quando ouvia o barulho de abertura da porta da garagem, lá corria o Pequi para mais uma aventura. Inseparáveis. Chegava a comover os mais sensíveis uma amizade tão profunda entre um cachorro e seu dono.

Então, deu-se o susto: Pequi parou de comer, amoitou-se num canto, gemia baixinho. Levantava-se apenas para tomar água – muita. Depois vomitava. No terceiro dia, começou a febre.

Internado na clínica que o acompanhava desde bebê, Pequi passou por exames de sangue, RX, ressonância magnética. Quase sem reação. Uma judiaria.

Chamados para tomar conhecimento do quadro e decidir os procedimentos, Doutor Elias e Dona Marieta demonstravam no olhar toda a sua preocupação. O exame de sangue denunciava uma grande infecção, a ressonância magnética revelava uma massa no estômago do animal. Pode ser um tumor, um abscesso; mas também alguma coisa que ele tenha engolido. Cachorros comem muita porcaria: pedras, plantas, bolas, plásticos, roupas…, esclarecia o veterinário.

A cirurgia foi marcada para o dia seguinte. Doutor Elias e Dona Marieta, abraçados, despediram-se do cãozinho, com lágrimas nos olhos. Tão pequeno! Sabiam que Pequi estava correndo perigo. Poderia ser um problema sem solução?

Fizemos todo o pré-operatório. O coração dele está bom. Ele é forte; vai se sair bem. É só aguardar. A cirurgia deve estar acabando..., tranquilizava o casal a moça da recepção.

Tudo correu conforme o esperado. Terminada a cirurgia, Pequi foi encaminhado à sala de recuperação, e o veterinário veio dar as boas notícias: Pequi vai ficar bem. Ele engoliu uma peça de vestuário. Como a roupa não pôde ser digerida, tornou-se um corpo estranho e causou uma infecção no estômago do animal. Com repouso e três dias de tratamento, Pequi terá a saúde de volta.

Doutor Elias e Dona Marieta olharam-se com alívio e cumplicidade pela situação vivenciada. De mãos dadas e sorrindo saíram da clínica cheios de confiança. Nos dias seguintes, foram visitar Pequi e, entre carinhos, diziam-lhe de sua apreensão e saudade.

No dia em que Pequi teria alta, puseram-se os dois na sala de espera ansiosos por levar para casa o animalzinho. Acertadas as contas, recebidas as instruções de como os curativos deveriam ser feitos, Pequi é trazido em sua caixinha de transporte.

A atendente lhes entrega então os objetos trazidos com ele quando da internação: seu travesseirinho, sua coberta, a toalha em que estava enrolado e, em separado, embolada num saquinho de plástico, uma calcinha de renda vermelha. Sorrindo para Dona Marieta, a atendente lhe diz: Veja só o que o moleque escolheu para engolir…

Pondo os olhos no saco de plástico, Dona Marieta enrijece o tórax e o pescoço, fixa um olhar gelado em Pequi e dali o desvia para o Doutor Elias.

Da clínica, de onde saíram juntos quinze minutos mais tarde, encaminharam-se para diferentes direções: Dona Marieta, para o escritório do advogado; Doutor Elias, para o hotel; Pequi, para um lar provisório onde vai aguardar a posterior adoção.

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