17. No aeroporto
– Mamãe, estou com sede!
– Me too! So hot!
– Vão com a vovó até o bar enquanto eu despacho a bagagem.
O andar térreo do aeroporto mostra-se um pequeno recorte da vida: gente que chega apressada, gente que sai entre curiosa e cansada; este, impaciente, aquele, distraído; mães às voltas com bebês; pais atentos às famílias; estudantes despreocupadamente sentados no chão, às voltas com seus aparelhos; chamados, risadas. Diferentes linguagens, diferentes adereços. Ninguém enxerga ninguém.
Escolhemos o bar-restaurante que mais agradou aos meninos e sentamos numa mesa central vazia.
– Eu quero um orange juice,
– Um achocolatado e um pão de queijo. Estou com fome.
– A mamãe disse para tomarem água…
– Mas você é mamãe da mamãe, pode mandar mais…
Olhinhos brilhando pela aventura, esperamos chegar nosso pedido.
– Ah! Eu também quero milk chocolate. O juice é teu vovó.
– Mais um achocolatado, vovó!
– Yes… yes… mais um…
Satisfeitos os desejos, fomos pagar a conta. O caixa, sem levantar os olhos, lê na tela do computador: um bife; uma pizza; duas cervejas; duas sobremesas; quatro achocolatados; um suco de laranja; um pão de queijo.
– Não! Não! Só os achocolatados, o suco e o pão de queijo!
Ainda sem levantar a cabeça, o olhar acusador, o caixa insiste:
– Está registrado aqui! É a conta daquela mesa ali no centro.
– Moço, eu nem como carne! Somos vegetarianos! Só vim dar um lanche para os pequenos. Não viemos almoçar!
O caixa ergue então os olhos e substitui a dureza por uma expressão entre compassiva e curiosa. Faz um sinal para o garçom mais próximo e este esclarece que, na troca de turno, o encarregado se esquecera de dar baixa na conta já paga pelos fregueses que nos tinham antecedido.
Contas acertadas, nos encaminhamos para o andar de baixo. A mudança na atitude do caixa continuava me intrigando. Só pude compreendê-la quando vi refletido na vitrine da loja de suvenirs meu vestido longo estampado com um sem número de desenhos coloridos representando Frida Kalo.