20. Amor

20. Amor

Nunca se falou tanto em amor. Nunca se amou tão pouco. O que a mídia e, por extensão, as pessoas chamam de amor eu chamo de atração, desejo, paixão, sexo. São coisas que não se confundem.

O amor é um sentimento que alimenta, conforta, dá sentido às coisas. Pode ser um amor incontrolável por alguém que nos dá alegria ao pensamento, realização pelo simples fato de o saber, de o ter abrigado em nossos sentimentos; amor pela vida; amor por uma causa que nos absorve e justifica nossa existência.

A paixão é tormento, é necessidade a ser saciada. O outro é visto apenas como objeto a ser consumido – o que importa sou eu, minha vontade, meus projetos. Ao outro é negada a individualidade: eu o vejo como gostaria que fosse e pretendo adaptá-lo a esse projeto. Nunca se matou tanto por amor. Nunca se morreu tanto por amor.

Amor? Amor não mata; amor dá abrigo. O que mata é o sentimento de posse, o desejo de dominar o alvo de nossa cobiça, a frustração por não ver nossa vontade obedecida, nossa incapacidade de aceitar qualquer impasse.

Morrer por amor? Quanto romantismo! Estamos no século XXI. A vida chama; os desafios são muitos; novos projetos se impõem. Chore, reclame, dê pontapés no muro, socos na parede, grite que nunca mais vai amar e olhe em frente, contemple o horizonte. Você é muito mais que um amor não correspondido!

Por outro lado, alegre-se pelo amor que teve: apenas seres amorosos estão preparados para o amor. O afeto mais profundo nasce do ser amoroso, qual raio de luz em direção ao lago: o reflexo, consequência da incidência da luz, só se realiza a partir dessa incidência. O amor que você tenha sentido ou vier a sentir é resultado do que você é, não do outro: você é capaz de amar. O resto é enredo literário (ou novelesco).

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