Divórcio comentado foi o do Doutor Elias e da Dona Marieta. Repentino, surpreendeu a todos: Eram tão unidos! Foi a cirurgia do Pequi!, esclarecem os mais próximos. Realmente, a cirurgia do Pequi foi um marco, um antes e depois, na vida do Doutor Elias.
Tímidas, ousadas, arrogantes, elas, as roupas, foram saindo de seus esconderijos, algumas ali esquecidas há muitos anos. Hoje vou fazer a seleção. As coisas precisam girar, é o que todos dizem. Não se guarda aquilo que já não é útil.
Nunca se falou tanto em amor. Nunca se amou tão pouco. O que a mídia e, por extensão, as pessoas chamam de amor eu chamo de atração, desejo, paixão, sexo. São coisas que não se confundem.
“Medo? Eu? Estás brincando!” “Como posso ter medo de fantasmas, se não acredito em céu, inferno, eternidade? Além do mais, o medo é produto de nossa mente supersticiosa. Preferimos acreditar no mágico e não no real.” “Não, querida, tenho medo é dos vivos, que são traiçoeiros.”
Durante horas ando e desando pelas ruas ora vazias ora ocupadas por passantes. Apressadas todas em seu cotidiano, nenhuma das pessoas com quem cruzo sequer desvia o olhar. Essa aparente indiferença não me surpreende: há muito abandonei a cidade a que agora retorno em breve passagem – coisa de reencontro comigo mesma, com minha infância,.
– Mamãe, estou com sede! – Me too! So hot! – Vão com a vovó até o bar enquanto eu despacho a bagagem. O andar térreo do aeroporto mostra-se um pequeno recorte da vida: gente que chega apressada, gente que sai entre curiosa e cansada; este, impaciente, aquele, distraído; mães às voltas com bebês; pais.
Frio de rodoviária. A noite impregnada de cheiros e emoções. O vento sacudia os galhos floridos das laranjeiras e esparzia seu incenso na limpidez da noite. Embora o calendário apontasse para o final do inverno, o brilho intenso das estrelas prometia geada ao amanhecer. Os passageiros já acomodados nos bancos do ônibus aconchegavam-se quanto possível em mantas e.
“A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo.” – Mamãe, vou morar com a Angelina. Já alugamos uma casa e estamos nos organizando. A notícia surpreende. Ontem ainda o filho pedira para você ir com ele ao laboratório (desde pequeno, laboratórios o assustavam), e agora, vai mudar.
Primeiro ele deixou sinais de sua passagem: pequeninas fezes e manchinhas de urina, em meio aos frascos, sobre a cômoda. Com o passar das semanas, a visita se tornou diária, e os sinais foram aparecendo em outros pontos do quarto. Alguma coisa precisava ser feita. Como sou vegetariana e vivo a defender os mamíferos –.
Botou a roupa na máquina e, quando reunia o lixo, percebeu o estrago que o cachorro fizera, durante a noite, em seu canteiro de margaridas. Recolhendo as flores e os talos macerados, ruminava a vontade de lhe dar umas chineladas: “Você vai ver, quando eu o encontrar…” Abaixada como estava, só pôde sentir o impacto.