O Parágrafo e o Tópico Frasal

O Parágrafo e o Tópico Frasal

O parágrafo é uma unidade de composição em que se desenvolve determinada ideia central, ou nuclear, a que se agregam outras, secundárias, intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela. Othon Moacyr Garcia

O parágrafo é uma unidade de composição

  • O parágrafo não tem limite de tamanho, tem limite de abordagem. Nele só cabe uma abordagem do assunto desenvolvido.
  • Aumentar o preço dos cigarros para desestimular o consumo é uma das principais estratégias para combater os danos causados pelo tabaco. Para conseguir esse efeito, os governos elevam os impostos cobrados pelo produto – uma medida que não costuma ser muito bem-vista entre a população e as empresas do setor, mas que estudos já mostraram ser altamente eficaz. Estima-se que 40 milhões de pessoas deixariam de fumar se cada região do mundo subisse, em média, em 10% o preço de venda.  Agora, um novo estudo investigou implicações ainda mais profundas de tornar o cigarro mais caro: a prática pode diminuir a mortalidade infantil. http://epoca.globo.com/saude   Acesso em 22/setembro/2017

Se a composição de um texto é um conjunto de ideias associadas, cada parágrafo – em princípio, pelo menos – deve corresponder a cada uma dessas ideias, tanto quanto elas (as ideias) correspondem às diferentes partes em que o autor julgou conveniente dividir o assunto.

 

A Unidade no Parágrafo

Frase Núcleo ou Tópico Frasal

Quem escreve determina a direção que tomará o assunto, norteando o parágrafo e evitando que  se disperse ou que seja truncado. Esse direcionamento comumente é feito por meio da frase-núcleo, também conhecida como  tópico frasal.

  • A oração tópico é auxiliada pelas outras orações que desenvolvem o tópico apresentado, vindo o conjunto a formar o parágrafo pretendido pelo escrevente/redator.
  • Embora chamada de frase-núcleo, pode aparecer sob forma de um conjunto de frases, que servem para garantir que o redator não se afastará do objetivo proposto para o parágrafo.
  • É, normalmente, uma generalização, em que o redator expressa uma opinião pessoal, um juízo, em que define ou declara alguma coisa.
  • A frase-núcleo serve normalmente para introduzir o assunto, vindo como abertura do parágrafo.
  • Pode também representar uma síntese do parágrafo, funcionando verdadeiramente como sua conclusão.
  • Alguns parágrafos dispensam o tópico frasal (frase-núcleo), diluindo a ideia central nos vários pensamentos que o compõem.

A sobrevida do paciente em coma ou de pessoas com doenças incuráveis gerou uma das mais polêmicas discussões éticas da história da medicina. Há os que defendem a espera da morte em nome da vida e os que preferem encurtar a vida, optando pela morte digna ou morte anunciada.

 

A legalização da eutanásia é tema de debate em vários estados americanos e em outros países do mundo. No Brasil, o código de ética médica, em seu artigo 66, proíbe “utilizar, em qualquer caso, meios destinados a abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu responsável legal”. Mas há quem admita, como a psiquiatra paulista Carmita Abdo, que “a vida só vale se existir dignidade. Viver como um amontoado de órgãos não é vida”.  Francisco Lemos, em Vida e Saúde,  agosto 1997

 

Tópico frasal conclusivo

Os esquimós têm diversos nomes para indicar a neve. Para eles, cada tipo de neve é uma coisa diferente de outro tipo. Para os povos da floresta, cada mato tem um nome específico. Os habitantes dos desertos têm nomes diferentes para dizer “areia”, conforme as características específicas que ela apresenta. Para conviver com seu meio ambiente, cada povo desenvolve sua cultura com palavras distintas para diferenciar as sutilezas do seu mundo. Quanto mais palavras distinguindo as coisas que as rodeiam, mais rica é a cultura de uma população. http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11423

 

Tópico diluído no parágrafo

Em 1990, eu fabricava pulverizadores e motosserras para a produção agrícola. Um dia, levei 20 equipamentos para teste de potenciais clientes no Espírito Santo. Durante duas horas, minhas máquinas derrubaram árvores. A queda de um jacarandá de 250 anos me fez parar. Até hoje não esqueço o barulho daquela árvore tombando. Foi uma visão impressionante. A partir daí, decidi que minhas invenções deveriam servir à natureza e não destruí-la.   Takeshi Imai, em depoimento a Flávia Yuri. Época, 18 de junho de 2012.

 

Resumindo:

  1. Quem escreve se vale do tópico frasal para apresentar a ideia central a ser tratada no parágrafo.
  2. O desenvolvimento dessa ideia central se faz nos períodos que a explicitam, podendo culminar num último pensamento – que apresenta o aspecto mais significativo da argumentação e fecha o parágrafo.
  3. Um bom tópico frasal deve ser: claro e específico e, dependendo da abordagem escolhida pelo redator, também detalhado.
  4. Um tópico frasal obscuro é inútil; no momento em que o leitor não consegue  distinguir qual será a ideia  central do parágrafo simplesmente lendo o tópico frasal, este perdeu sua finalidade.Exemplos:
    Tópico frasal obscuro: A televisão é prejudicial.
    Claro: Devido a seu próprio fim, a televisão comercial estimula o consumismo.
  5. Um tópico frasal não pode ser tão amplo ou tão genérico que exija um ensaio inteiro para explorá-lo.
  6. O detalhamento permite ao redator apresentar um tópico frasal capaz de representar um plano para o parágrafo, apontando para todos os aspectos que ali serão abordados.
  7. A linguagem é tanto mais clara, precisa e pitoresca quanto mais específica e concreta. Generalizações e abstrações tornam confusas as ideias, traduzem conceitos vagos e imprecisos.

Modos de iniciar o parágrafo

Inúmeras formas há para iniciar um parágrafo, pois tudo depende das ideias que inicialmente se imponham ao espírito do escritor, das associações implícitas ou explícitas, da ordem natural do pensamento.

Podem ser mencionadas:

  • Alusões históricas
  • Omissão de dados, embora o assunto seja enfocado, para despertar a atenção do leitor
  • Interrogação
  • Declaração inicial
  • Definição
  • Divisão

Declaração inicial

Timidez não é doença, e sim estilo, reforça a psicanalista Norma Semer. Segundo ela, o tímido ainda leva uma vantagem em relação aos desinibidos: ele pensa bem antes de decidir, é mais cuidadoso. “Agir sem pensar é um perigo. Leva a uma falta de consideração pelo outro e pela realidade.”
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/988300-timidez-tambem-tem-suas-vantagens-dizem-especialistas.shtml

Definição

Estilo é a expressão literária de ideias ou sentimentos. Resulta de um conjunto de dotes externos ou internos, que se fundem num todo harmônico e se manifestam por modalidades de expressão a que se dá o nome de figuras.  Augusto Magne

Divisão

O texto bem produzido é, na verdade, uma estrutura organizada e bem equilibrada entre estas três etapas: etapa intertextual, etapa contextual ou pragmática e etapa textual. Ele deverá refletir o lastro cultural do escritor em relação às ideias expostas sobre o tema (relações intertextuais). Deverá conter as crenças e valores sobre o que o escritor defende ou critica, para atuar nos leitores de forma adequada (relações contextuais). Por último, deverá ser bem produzido linguisticamente, observando a boa construção sintática, a riqueza e pertinência vocabular, a correção gramatical e o estilo (relações textuais). Carvalho & Souza. Compreensão e produção de textos

 

Modos de desenvolver o parágrafo

  • Enumeração ou descrição de detalhes
  • Paralelo apoiado no contraste (nas diferenças)
  • Paralelo apoiado nas semelhanças
  • Simples paralelo
  • Comparação
  • Analogia
  • Tempo
  • Espaço
  • Causa/efeito-Motivo/consequência
  • Ideias em cadeia
  • Definição
  • Exemplificação

Enumeração

Quatro funções básicas têm sido convencionalmente atribuídas aos meios de comunicação de massa: informar, divertir, persuadir e ensinar [tópico frasal]. A primeira diz respeito à difusão de notícias, relatos, comentários etc. sobre a realidade, acompanhada, ou não, de interpretações ou explicações. A segunda função atende à procura de distração, de evasão, de divertimento, por parte do público. Uma terceira função é persuadir o indivíduo – convencê-lo a adquirir certo produto, a votar em certo candidato, a se comportar de acordo com os desejos de um anunciante. A quarta função – ensinar – é realizada de modo indireto ou direto, intencional ou não, por meio de material que contribui para a formação do indivíduo ou para ampliar seu acervo de conhecimentos, planos, destrezas etc. Samuel Pfromm Netto Comunicação de massa

Paralelo apoiado no contraste (nas diferenças)

Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente [tópico frasal]. A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de o explorar a benefício de interesses pessoais.[…] A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada. Rui Barbosa

Não se pode imaginar contraste mais violento do que o existente entre as duas regiões.  De um lado, a terra escura, pegajosa, úmida, cavada de sulcos ou embebida de água, com árvores frutíferas, mangueiras, laranjeiras, canaviais, rios limosos. De outro lado, um caos de pedras cinzentas cravadas em desordem no chão de argila seca, rachado pelo sol, e vastas extensões de areia ardente. No litoral, a riqueza da vegetação exuberante, de um verde quase negro, com raízes mergulhadas nos pântanos e o cimo muitas vezes coroado de brumas matinais – plantas que arrebentam de seiva, de mel, de perfumes. No sertão, a caatinga, como lhe chamavam os índios, com uma vegetação de cactos, de moitas espinhosas, de ervas raquíticas, amarelas, calcinadas, de árvores esqueléticas com folhas raivosamente eriçadas, transformadas em espinhos ou arestas, de árvores ventrudas que são como odres para reter sob a casca rugosa a maior quantidade possível da mesquinha água da chuva. À paisagem voluptuosa da cana-de-açúcar, em que tudo é tentação de vadiar, de dormir, de sonhar, de amar, opõe-se esta paisagem dura, angulosa, trágicaRoger Bastide  – Brasil –  terra de contrastes

Simples Paralelo

Oração e trabalho são os recursos mais poderosos na criação moral do homem. A oração é o íntimo sublimar-se da alma pelo contato com Deus. O trabalho é o inteirar, o desenvolver, o apurar das energias do corpo e do espírito, mediante a ação contínua sobre si mesmos e sobre o mundo onde labutamos. Rui Barbosa

Comparação

A comparação aponta para semelhanças reais, sensíveis, expressas numa forma verbal própria (como, tal qual, tanto…quanto; parece, lembra, assemelha-se).

Metáfora e comparação são de tal forma parecidas que alguns especialistas classificam exemplos de metáfora como “comparação implícita” (porque não apresenta o elemento de conexão característico da comparação) e os exemplos de comparação como “comparação explícita”.
https://www.significados.com.br/metafora-e-comparacao

A indústria do petróleo estruturou e revolucionou a economia global no século 20. Foi uma bênção econômica para os países que dispunham desse recurso natural em abundância – um motor de crescimento. Junto com ela, contudo, vieram efeitos perversos: 1) alimentou regimes autocráticos e corruptos, inviabilizou democracias e criou fatores de permanente instabilidade; 2) produziu degradação ambiental por meio da emissão de carbono, protagonizando a mudança climática. Em ambos os vetores, conduziu a uma maciça violação dos direitos humanos, em especial das populações mais miseráveis. De bênção, transformou-se em maldição. Conrado Hübner Mendes. Filosofia política e as urgências do mundo real. Quatro cinco um, setembro 2017

Analogia

Escorraçada de toda parte, vivendo sempre esfomeada, tendo que subsistir sem morada certa, apunhalada aqui, estrangulada ali, não desejada em verdade a não ser por uns poucos e loucos humanistas e revolucionários através da história, é ridículo se representar a liberdade como uma mulher bela, um facho eternamente aceso na mão, os traços finos, a fisionomia tranquila e altiva. A liberdade é um cachorro vira-lataMillôr Fernandes – livro vermelho dos pensamentos de Millôr

Tempo

O início institucional se deu em 1987: num estival domingo de Brasília, 559 parlamentares investidos do Poder Constituinte reuniram-se  no plenário do Congresso Nacional para elaborar o documento que consagraria uma nova ordem política no País. O desfecho só se daria 583 dias depois, num dos mais complexos e tortuosos processos constituintes de que se tem notícia. Mas a Constituição de 88, como produto final de uma odisseia – foi por acaso comandada por um Ulysses –, demarcou um projeto civilizatório sem precedentes no Brasil.   Antônio Sérgio Rocha. A República de 88. Quatro cinco um, setembro 2017.

Espaço

O povoamento do sul do Brasil processou-se de dois modos diferentes: no litoral, pela vinda de colonos açorianos, que chegavam com algumas ferramentas, sementes, um pouco de dinheiro; no interior, pela chegada de famílias paulistas, que seguiam o caminho do altiplano. O duplo aspecto do povoamento dará lugar a dois tipos de sociedade e dois tipos de economia. Roger Bastide – Brasil: terra de contrastes

Causa/efeito-Motivo/consequência

  • Os fatos ou fenômenos físicos têm causa e efeito (além das ciências matemáticas e das ciências físico-químicas, também as ciências sociais se valem da palavra causa para explicar os fatos);
  • Os atos ou atitudes praticados ou assumidos pelos homens têm razões, motivos, explicações e consequências, resultados.
  • É preciso não confundi-los, como também não confundir causa e efeito.

Causa/efeito 

aquecimento global designa o aumento das temperaturas médias do planeta ao longo dos últimos tempos, o que, em tese, é causado pelas práticas humanas – embora existam discordâncias quanto a isso no campo científico. A principal causa desse problema climático que afeta todo o planeta é a intensificação do efeito estufa, fenômeno natural responsável pela manutenção do calor na Terra e que vem apresentando uma maior intensidade em razão da poluição do ar resultante das práticas humanas.   http://brasilescola.uol.com.br/geografia/aquecimento-global.htm

Motivo – Razão/consequência

É comum encontrar-se na imprensa brasileira elevado número de vocábulos ingleses (principalmente), alemães, espanhóis, russos, latinos e franceses . As razões da frequência desses vocábulos nas diversas seções do jornal são as mais variadas possíveis. Dentre elas, Zdenek Hampjs cita a falta do termo vernáculo, o seu desconhecimento por parte do jornalista, a tendência ao esnobismo (vide coluna social) ou, ainda, a tentativa de imprimir a cor local, ou seja, o ambiente típico do país a que a notícia se refere. Adaptado de texto de Maria do Carmo L. de O. Fernández – Futebol – fenômeno linguístico

Divisão

A vocação literária é sempre concreta. Manifesta-se como tendência, não só à atitude geral, mas ainda a este ou àquele gênero de atitude. Entre as inúmeras posições possíveis (e neste terreno as classificações chegam às maiores minúcias), há cinco a marcar bem nitidamente inclinações diferentes do gênio criador – o lirismo, a epopeia, o drama, a crítica, a sátira. O lirismo é a expressão da própria alma. A epopeia, a representação narrativa da vida. O drama, a representação ativa dela. A crítica, o juízo sobre a criação feita. E a sátira, a caricatura dos caracteres. Alceu Amoroso Lima – Estética literária

Definição

O humor, numa concepção mais exigente, não é apenas a arte de fazer rir. Isso é comicidade, ou qualquer outro nome que se escolha. Na verdade, humor é uma análise crítica do homem e da vida. Uma análise não obrigatoriamente comprometida com o riso, uma análise desmistificadora, reveladora, cáustica. Humor é uma forma de tirar a roupa da mentira, e o seu êxito está na alegria que ele provoca pela descoberta inesperada da verdade. Ziraldo – Entrevista publicada na revista Veja – 31-12-69

Ideias em cadeia

Na Universidade tudo pode virar tese, tudo é potencialmente assunto para uma tese ou para um projeto de tese. Você caminha pelo campus e pode até sentir as ideias crepitando como madeira fresca no forno a lenha. Para o bem ou para o mal, é verdade, pois nem sempre a qualidade e o rigor científicos caminham de mãos dadas com tamanha efervescência intelectual. João Paulo Lotufo http://jornal.usp.br/, em 21/setembro/2017

Exemplificação

Há, da parte dos produtores de tevê, o eterno desejo de atender às solicitações do público. Se descobrem, por exemplo, que o trivial doméstico agrada aos telespectadores de novelas, logo constroem cenários em torno da cozinha ou da copa. Tal personagem deveria morrer no fim da história, de acordo com o script mas contra a vontade do público? Simples, muda-se o script e se assegura a vida do herói. Muniz Sodré – A comunicação do grotesco

 

A discussão aqui apresentada baseia-se em textos de Othon Moacyr Garcia (Comunicação em prosa moderna) e Claudio Moreno e Paulo Coimbra Guedes (Curso básico de redação)

http://blogpalavra.com.br

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