6 . Verão

6 . Verão

Sol de verão. Quarenta graus à sombra. O calor da tarde reverberava nas telhas de amianto. O bafo, denso, pesado, subia das pedras escaldantes. Qual trepadeira indomada, o ar quente envolvia os corpos, roubando-lhes as forças. A atmosfera matava sua sede com a umidade dos corpos.

Nada parecia resistir ao calor que tudo envolvia. As coisas todas permaneciam hipnotizadas, paradas no tempo, aguardando um sopro de brisa que viesse despertá-las. Narinas dilatadas, os passantes inalavam o ar aquecido. O cansaço se fazia maior.

Nas ruas mais distantes, o pó do chão se misturava aos resíduos e criava uma densa camada de poeira que tudo escurecia. A mesma cor indefinida revestia portas, janelas, toldos, telhados e comprometia as roupas penduradas nos varais. Nos pátios, a ausência dos gritos a acompanhar o rolar das bolas e o soar dos passos das crianças provocava estranhamento. Ondas trêmulas saídas do asfalto criavam a expectativa de aparecer ali um oásis a ofertar acolhimento e água fresca.

Somente as árvores mais frondosas mantinham seu verde carregado; as mais frágeis deixavam tombar precocemente as flores e as folhas emurchecidas. Jardins substituíam o perfume das flores pelo odor das hastes ressequidas.

Não fosse o movimento dos carros – vidros fechados aprisionando o conforto interno do ar condicionado – a cidade pareceria morta. Pessoas e animais recolhiam-se às sombras na busca inútil de algum conforto. Exceção apenas aos aposentados, que, remetidos à infância em suas inesperadas bermudas, dedicavam-se a conversas sobre a vida alheia ou a infindáveis partidas de dominó, agrupados nas sombras possíveis.

Entorpecida, no meio da sala, eu não sabia exatamente aonde ir, tudo ali se mostrava sem vida. As plantas ao meu redor, de aparência murcha e triste, acentuavam a impressão de abandono. As rosas trazidas da floricultura, tão coloridas na véspera, agora sem viço, despetalavam. De pouco servira a água colocada nos vasos que abrigavam as folhagens verdes. Parecia, ao contrário, que a umidade as cozinhara lentamente.

Alguma coisa, no entanto, no ambiente da sala, escapava a minha compreensão; alguma coisa apenas sentida e ainda não explicada. Aproximando-me do balcão em que repousava um arranjo de flores de cetim e plástico, encontrei a resposta que procurava: dobradas sobre si mesmas, as flores encurvavam-se amolecidas e tortas em suas hastes. O calor as destruíra.

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