12. Paris

12. Paris

Qu’est ce qu’on fait? C’est l’été.

Et, les touristes?

Les touristes? Ils reviennent… Toutes les années c’est la même chose. Quoi faire?

Como não amar Paris, a cidade que a magia do cinema eternizou em nosso imaginário?  Ah! As luzes de Paris, as pontes de Paris, o rio Sena e a promessa de encantamento na espuma deixada por seus barcos.

Paris de muitas histórias, de diferentes facetas, de múltiplas verdades. Paris de tantos heróis, de tantas guerras.

A aura de luz, de glamour, de paixão e também de revolução, faz de cada cidadão do mundo um entusiasta por Paris. La Marseillaise ainda embala nossos sonhos de liberdade.

À saída da estação do metrô, esperamos pelos ecos de Edith Piaf cantando Rien de rien, je ne regrette rien.

As vozes que se misturam nas ruas somam os sons melodiosos do Francês falado pelos francophones à algaravia de múltiplos falares, desde o Inglês – antes tão repudiado – trazido pelos turistas e migrants de todas as partes do mundo até o mosaico de vozes dos misérables acomodados em banlieus.

Elegantes, sóbrios, hautains, os citoyens mais velhos, ciosos de sua história e de sua linhagem, caminham pelas calçadas sobraçando jornais ou pacotes de pães e deixando transparecer um sentimento misto de orgulho e alheamento. Também os jovens, envolvidos no mundo dos negócios ou das artes, transpiram elegância. A pashmina lhes confere uma graça única, ausente em qualquer outro meridiano.

Destacam-se nas ruas os franceses chegados das antigas colônias. Sabem-se protegidos pelas leis que lhes garantem a nacionalidade, mas sabem também que os irmãos que os acolhem, ao mesmo tempo, deles se protegem assustados pelas profundas diferenças culturais.

Os passos dos que se recolhem a casa ao fim do expediente abrem caminho entre os jovens desempregados reunidos nas calçadas, raízes presas a fenecidos sonhos. Em grupo, sentem-se mais fortes e até ameaçadores. A eles se misturam os sans papiersEsmeraldas em busca de seu Quasímodo.

As cores se confundem nos tons de pele, olhos e cabelos, nos tecidos mesclados em arranjos que denunciam a origem dos arrivants. As africanas – belas estátuas a desfilar seus coloridos trajes típicos –, atentas aos filhos que as acompanham, caminham, com serenidade e altivez. As originárias dos vários Estados árabes expõem sinais de riqueza – estas rodeadas de crianças e empregadas (quase sempre com traços malaios) – ou de pobreza suportada com dignidade, fácil de encontrar até mesmo entre os pedintes e os residentes nos quartiers défavorisés.

Fazendo compras em Paris, não tenha pressa: La vie est belle. Toujours.

Le proche, anuncia a atendente com um sorriso simpático, para, em seguida informar: J’ai fini mon quart de travail. Mon collègue est en train d’arriver.

Sem desviar os olhos, para demonstrar que não mente, pega o telefone e convoca o retardatário: Tu es en retard; oui, oui, je t’attend…

De um móvel embutido embaixo da máquina registradora, extrai uma reduzida bolsa, de dentro da qual, pacientemente, retira pequenos sacos plásticos. Em cada um deles, vai acomodando as moedas até ali guardadas na gaveta coletora, separadas em diferentes compartimentos segundo o seu valor. Fecha a sacolinha – agora cheia de moedas – e a coloca dentro da própria bolsa. Informa então aos fregueses na fila: Mon collègue est arrivé, e, voltando-se para o jovem que chega, cumprimenta-o com um beijinho em cada lado: Bisou, bisou… et au revoir. À bientôt!

Le collègue, após calmamente abrir a sacola que traz consigo e dela retirar os já esperados saquinhos de moedas que vão sendo acomodadas nos espaços a elas reservados, ergue os olhos e, sorrindo, pergunta ao freguês a sua frente: Qu’est ce que vous avez choisi?.

Pressa têm os turistas, sempre impacientes e afogueados: aglomeram-se nas praças, empurram-se nos pontos históricos, como se Paris lhes fosse escapar por entre os dedos. Em conversa com outros turistas que se confessam debutantes, enchem o peito, orgulhosos, quase se sentindo parisienses, e detalham suas experiências anteriores na Cidade Luz.

Também, estando no metrô, seja rápido para não ser arrastado para fora e abandonado em alguma plataforma desconhecida. A maioria olha sem nada ver a seu redor. Focados os passageiros nos bancos vazios ou nas portas de saída em que se aglomeram muito antes de se aproximarem as paradas, difícil entrar, difícil sair, difícil até mesmo ser educado.

Nas escadas rolantes, aperte-se à direita e libere espaço suficiente para aqueles – talvez retardatários, talvez impacientes – que passam correndo a seu lado.

Há coisas só vistas em Paris: a baguette apertada embaixo do braço, os doces únicos, os queijos acompanhados de vinho, os vinhos acompanhados de canções, a atmosfera que insinua paixões, os monumentos que traduzem heroísmo, a fragilidade transformada em resistência.

Essencial para entender o cotidiano vivido em Paris é entender a extrema valorização de suas férias de verão: ruas inteiras de comércio fechado, bairros inteiros com bilhetes escritos a mão pespegados em suas portas e vitrines: Fermé. Nous sommes retournés à la première semaine septembre.

Et les touristes?

Ils reviennent. C’est l’été, quoi faire?

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